domingo, 24 de junho de 2007

Unidade de Cuidados Continuados em Vendas Novas

Nos tempos que correm parece haver algum consenso no apontar de dois temas, “cuidados de saúde” e “protecção na velhice”, como os geradores de maior descontentamento entre cidadãos de baixos recursos financeiros.

Se entre os idosos não há, lamentavelmente, capacidade reivindicativa, nem condições para que isso aconteça nos anos mais próximos, já quanto à saúde, trata-se de uma área mais abrangente, que percorre transversalmente todas as faixas etárias. Logo, mais incómoda para os poderes instituídos.

Apesar desta maior exposição, o acesso em tempo útil aos serviços de saúde pública, ainda é o espelho da humilhação, do trauma e da quebra de dignidade, a que estão votados quase todos os que a ela recorrem.

A Santa Casa da Misericórdia, com um historial rico na prestação de cuidados de saúde, candidatou-se recentemente ao “Regime de Incentivos Saúde XXI”, destinado a criar, ou a adaptar, Unidades de Prestação de Cuidados de Saúde. A concretizar-se este investimento seria o realizar de um sonho que nos persegue a todos, Vendasnovenses, que olham para o seu Hospital com um misto de saudade e de carinho, por tudo aquilo que ele representou para esta população.

A Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração, prevista para funcionar com 28 camas nas instalações do antigo Hospital, é um investimento que justifica um esforço financeiro de grande monta. A recuperação do edifício e a sua reconversão em UCCLD está orçamentada em 800.000 euros. O equipamento ronda os 200.000 euros. Tudo somado, um milhão de euros. Como contrapartida, o Estado dá apenas metade deste valor e o Município comparticipa com menos de 90.000 euros, se for cumprido o previsto no protocolo de cooperação.

Resta assim à Misericórdia encontrar formas de financiar os mais de 410.000 euros que lhe cabem. Nada fácil nos tempos que correm. Tanto mais que as actuais disponibilidades já estão comprometidas com a construção da nova Creche.

Depois, há ainda dúvidas sobre a gestão corrente da Unidade. Nos moldes apresentados, o equilíbrio financeiro estaria aparentemente acautelado. Já quanto à funcionalidade do sistema nem tudo está clarificado. Se a selecção de utentes a internar ficar centralizada em Évora, conforme já foi ventilado, corre-se o risco de não termos Vendasnovenses a beneficiarem destes cuidados e a Unidade ficar ocupada por largos períodos com doentes oriundos de outras regiões do País. A mais-valia para nós, Vendasnovenses, seria neste caso algo relativa, ainda que a criação de mais de uma dezena de postos de trabalho seja não menos importante.

Por tudo isto parece que afinal o sonho não está assim tão à mão como inicialmente se previa. O edifício do antigo Hospital deverá continuar tal como está, desocupado e a degradar-se, e a figurar na nossa memória colectiva, apenas como uma recordação do passado. Uma boa recordação do passado.

Manuel Filipe Quintas